terça-feira, 13 de setembro de 2011

Reacção

Rejeito tudo o que o poeta cantou
Se abrandar o tempo
Será somente para que sobre mais
Para eu o lembrar.
Que a música se ouça
E bem alto
Como ele sempre a ouviu
(E ouvirá ainda?)
Tudo o que ele foi
Continua a ser:
A minha vida
E se houve amor
É hoje maior que nunca
Que as estrelas brilhem
Que a Lua brilhe
Que o Sol nasça mais forte que nunca
A iluminar caminhos
Aos que ele criou
A iluminar os caminhos
De quantos o souberam amar
A ele,  que tanto os amou
E deixem o negro
O negro que eu trajo
Apenas porque sai de dentro de mim
E se assim não for
Então não termos entendido nada
Do que ele foi.

Lx. 3-7-2002

domingo, 11 de setembro de 2011

"Funeral Blues" W.H.Auden

"Parem todos os relógios cortem o telefone
Evitem que o cão ladre com um osso suculento
Silenciem os pianos e, com esse tambor abafado
Tragam o caixão. Deixem passar os chorosos.

Deixem os aviões sobrevoarem o nosso choro lá em cima
Escrevinhando no céu a mensagem: "Ele está morto"
Coloquem laços cinzentos em torno dos pescoços brancos pombos públicos.
Deixem que o polícia de trânsito use luvas de algodão pretas. 

Ele era o meu Norte, o meu Sul, o meu Este, o meu Oeste.
A minha semana de trabalho, o meu domingo de descanso
O meu meio-dia, a minha.meia-noite, a minha conversa, a minha canção
Pensei que o amor duraria para sempre, estava enganado.


Agora as estrelas não são desejadas, apaguem cada uma delas.
Embrulhem a Lua e desmontem o Sol
Levem embora o Oceano e varram a Floresta
Porque de nada pode agora advir bem algum"

domingo, 17 de julho de 2011

caminhos

Há um momento em que nos apercebemos de que chegámos ao fim da linha. Era esperado, mas fica-se surpreendido. O caminho é longo, parece longo, mas de repente...última estação! E é um caminho de sentido único e obrigatório, este. Não há ramais, não há ligações a outras redes, não há transbordos.Se houve apeadeiros, não demos por eles, de distraídos que andávamos.Só resta sair da carruagem. A viagem acabou.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

nem conto nem história...

Já assisti várias vezes a situações mais ou menos deploráveis na Assembleia da República, mas não me lembro de alguma como a que ontem se viu para a eleição do novo Presidente. Como é que um homem, supostamente despojado quanto a cargos e privilégios, se sujeita a semelhante humilhação? Evidente que a culpa maior não lhe pertence. Mas de um homem que se julga sério, honesto sobretudo coerente, seria de esperar esta atitude? Sabia-se desde cedo que não iria ter os votos necessários para ser eleito. O que o levou a não "propor não ser proposto" para o cargo? Cada um tirará as suas conclusões, eu já tirei as minhas.Na corrida a Belém tanto falou em independência, contra os partidos, em sociedade civil,no acréscimo que a sua participação daria à vida política, e é justamente um independente que provoca esta triste situação. A este estilo digo "não, obrigado"   E ainda houve quem achasse uma digna atitude o ter desistido à 3ª volta... Quanta hipocrisia!            Quero deixar claro que sou independente, para que não haja falsas interpertações.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Aljube

Há meses deixei aqui a ideia de que talvez viesse a partilhar lembranças de tempos há muito passados. Não pensei mais nisso, confesso. A visita à Exposição no Aljube, " A Voz das Vítimas",  trouxe-me novamente à memória, e de que maneira, esses mesmos tempos...
Recuo a 1938, ano em que meu pai foi, mais uma vez, preso por oposição ao regime; passou uns meses no Forte da Trafaria, como militar que era. No dia 24 de Dezembro, véspera de Natal, tão celebrada pelo mesmo regime, foi transferido para a cadeia do Aljube, em virtude de ter sido demitido do Exército. O Aljube surge-me diferentemente do que se passara nas nossas visitas à Trafaria.Surge-me com janelas e portas de grades gordíssimas, as enormes e numerosas chaves dos carcereiros, as escadas que temos de subir até à sala da visita, tudo, e embora eu saiba bem as razões pelas quais o meu pai está preso, o que só me ajuda, tudo isso me pesa, entra nos meus sonhos, que são pesadelos.
Lembro-me que as visitas não eram amiudadas. Vivíamos no litoral do Alentejo, e as visitas não eram fáceis, por razões económicas. Quando vínhamos,trazíamos o possível e quase o impossível: uns mimos, guloseimas, os bolos de que ele mais gostava,ao mesmo tempo que roupas que era necesssário ir alternando. E nós, as mais miúdas, numa altura festiva, decidimos trazer à visita aquilo que, para nós, representava o que de mais carinhoso tínhamos: as nossas bonecas de celuloide, a quem arranjámos fatos novos, luxo a que nós próprias não nos podíamos dar.Vínhamos tão contentes! Entramos aqueles portões, casa de recepção em seguida, para deixar como de costume.as ditas encomendas, e...espanto! De mistura com o farnel, as mudas de roupa, os jornais, ficaram também as nossas "meninas", tudo para ser revistado. Acabada a visita fomos buscá-las. Voltaram ao nosso colo caminho do Alentejo, tão acabrunhadas, parecia-me, como nós próprias Foi-nos difícil entender tamanha minúcia... e ficou-me para o resto da vida um incidente de tão pouca importância. Recordo a saída das visitas do Aljube: os familiares em fila no passeio fronteiro, passeio muito  inclinado e escorregadio,  a tropeçarmos uns nos outros, porque todos queríamos andar e olhar para trás, a fazer ainda um adeus àqueles rostos que, serenamente, nos olhavam por detrás das gordas grades, acenando, tambem eles, conforme podiam (que as janelas eram poucas para tantos) até uma próxima visita.

domingo, 8 de maio de 2011

Lembranças

Como eu hoje compreendo bem a minha mãe, era eu uma jovem, quando ao fim de uma refeição, normalmente
ao jantar, a ouvia, mais do que a dizer, a pensar alto "fazia hoje anos o papá" ou "faz hoje anos que morreu ..."
e lembrava o filho, a filha, um irmão , um dos seus pais, amigos, quem a minha mãe tinha naquele dia mais presente que nunca. Eu comentava: só agora é que fala disso, passou o dia dorido, sem nos dizer nada? Podíamos ter ajudado... Ao que respondia: "quando se chega à minha idade", e ela não chegou à minha," todos os dias nos trazem à lembrança qq facto passado que nos marcou..." Hoje compreendo-a bem. Nem podia ser de outra maneira; uma vida de várias décadas enche-se de emoções, de sentimentos, de paixões e de dor também.Os dias não se repetem, mas as datas sim, tem de haver sobreposição de acontecimentos; misturam-se lágrimas com risos, boas com dolorosas lembranças, mas procuremos sempre valorizar o bom que se tem.
Procuro fazer por isso, também isso aprendi com a minha mãe, com ela, para quem a vida nem sempre  foi mto generosa.  Como posso eu fraquejar???

Sem resposta

Não sei o que dói  mais, se a ausência da presença, se a presença da ausência! Só sei que dói.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Publico janeiro 2011

Leio normalmente a crónica que Rui Tavares assina às 2ª feiras no Público. Confesso que a publicada no passado dia 24 de Janeiro, dia seguinte ao da eleição presidencial, me tocou particularmente. Uma peça de uma
ternura atroz! Descrevia ele a dificuldade de seu pai em ir votar, por questões de saúde, constratando com a imensa vontade em o fazer, direito adquirido quando o senhor já era homem feito e pai de família. Conclui facilmente que esse homem é justamente da minha geração, praticamente da mesma colheita. Tal como o dele, tambem o meu pai morreu sem ver o fim da ditadura. O meu pai, que tanto se batera contra a mesma e disso sofreu as consequências. Prisões, demissão do Exército Português, vida que seguira porque os recursos de sua mãe, já viúva, lhe não permitiram seguir o seu sonho de ser médico,proibição de continuar com um colégio que ele próprio criara.
Habituei-me, desde mto pequena , a visitá-lo na prisão, desde a fortaleza de Peniche ao Aljube de Lisboa. passando pela Trafaria. Guardo disso bem vivas memórias.Talvez venha a partilhá-las...
Fui atrás dessas lembranças, e afastei-me da crónica que lhes deu origem.
Tambem eu, naturalmente, fui votar. Talvez a nossa opção na escolha do candidato não tivesse sido a mesma.  Pouco importa. Ambos escolhemos um candidato de esquerda. Valeu a pena, sim

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

por que sorrio

pediram-me um dia sete razoes para sorrir:

1.Sorrio qdo revejo o filme da minha já longa vida, iniciada no tempo do ainda só preto e branco, mesmo correndo o risco de deixar afogar o sorriso numa qualquer furtiva lágrima.:
2 Sorrio quando desejo com muita força que os sorrisos das minhas netas as acompanhem pela vida fora.
3Sorrio sempre que me apercebo de que pessoas me estimam.
4.Sorrio quando tenho a noção de que possa ter sido a alguem.
5.Sorrio perante a adversidade para que ela não saia vencedora.
6.Sorrio sempre que me cruzo com uma criança na rua.
7.Sorrio à vida, fazendo por esquecer que ela nem sempre me deu razões para isso. Mas deu-me tanto de bom, sorri-lhe pois..

experiencia