quarta-feira, 2 de outubro de 2013


Amigo é aquele que partilha o pão com a gente.
(?)
Tenha eu coragem para mudar o que possa, coragem para aceitar o que não possa mudar, sabedoria  para perceber a diferença.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Reacção

Rejeito tudo o que o poeta cantou
Se abrandar o tempo
Será somente para que sobre mais
Para eu o lembrar.
Que a música se ouça
E bem alto
Como ele sempre a ouviu
(E ouvirá ainda?)
Tudo o que ele foi
Continua a ser:
A minha vida
E se houve amor
É hoje maior que nunca
Que as estrelas brilhem
Que a Lua brilhe
Que o Sol nasça mais forte que nunca
A iluminar caminhos
Aos que ele criou
A iluminar os caminhos
De quantos o souberam amar
A ele,  que tanto os amou
E deixem o negro
O negro que eu trajo
Apenas porque sai de dentro de mim
E se assim não for
Então não termos entendido nada
Do que ele foi.

Lx. 3-7-2002

domingo, 11 de setembro de 2011

"Funeral Blues" W.H.Auden

"Parem todos os relógios cortem o telefone
Evitem que o cão ladre com um osso suculento
Silenciem os pianos e, com esse tambor abafado
Tragam o caixão. Deixem passar os chorosos.

Deixem os aviões sobrevoarem o nosso choro lá em cima
Escrevinhando no céu a mensagem: "Ele está morto"
Coloquem laços cinzentos em torno dos pescoços brancos pombos públicos.
Deixem que o polícia de trânsito use luvas de algodão pretas. 

Ele era o meu Norte, o meu Sul, o meu Este, o meu Oeste.
A minha semana de trabalho, o meu domingo de descanso
O meu meio-dia, a minha.meia-noite, a minha conversa, a minha canção
Pensei que o amor duraria para sempre, estava enganado.


Agora as estrelas não são desejadas, apaguem cada uma delas.
Embrulhem a Lua e desmontem o Sol
Levem embora o Oceano e varram a Floresta
Porque de nada pode agora advir bem algum"

domingo, 17 de julho de 2011

caminhos

Há um momento em que nos apercebemos de que chegámos ao fim da linha. Era esperado, mas fica-se surpreendido. O caminho é longo, parece longo, mas de repente...última estação! E é um caminho de sentido único e obrigatório, este. Não há ramais, não há ligações a outras redes, não há transbordos.Se houve apeadeiros, não demos por eles, de distraídos que andávamos.Só resta sair da carruagem. A viagem acabou.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

nem conto nem história...

Já assisti várias vezes a situações mais ou menos deploráveis na Assembleia da República, mas não me lembro de alguma como a que ontem se viu para a eleição do novo Presidente. Como é que um homem, supostamente despojado quanto a cargos e privilégios, se sujeita a semelhante humilhação? Evidente que a culpa maior não lhe pertence. Mas de um homem que se julga sério, honesto sobretudo coerente, seria de esperar esta atitude? Sabia-se desde cedo que não iria ter os votos necessários para ser eleito. O que o levou a não "propor não ser proposto" para o cargo? Cada um tirará as suas conclusões, eu já tirei as minhas.Na corrida a Belém tanto falou em independência, contra os partidos, em sociedade civil,no acréscimo que a sua participação daria à vida política, e é justamente um independente que provoca esta triste situação. A este estilo digo "não, obrigado"   E ainda houve quem achasse uma digna atitude o ter desistido à 3ª volta... Quanta hipocrisia!            Quero deixar claro que sou independente, para que não haja falsas interpertações.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Aljube

Há meses deixei aqui a ideia de que talvez viesse a partilhar lembranças de tempos há muito passados. Não pensei mais nisso, confesso. A visita à Exposição no Aljube, " A Voz das Vítimas",  trouxe-me novamente à memória, e de que maneira, esses mesmos tempos...
Recuo a 1938, ano em que meu pai foi, mais uma vez, preso por oposição ao regime; passou uns meses no Forte da Trafaria, como militar que era. No dia 24 de Dezembro, véspera de Natal, tão celebrada pelo mesmo regime, foi transferido para a cadeia do Aljube, em virtude de ter sido demitido do Exército. O Aljube surge-me diferentemente do que se passara nas nossas visitas à Trafaria.Surge-me com janelas e portas de grades gordíssimas, as enormes e numerosas chaves dos carcereiros, as escadas que temos de subir até à sala da visita, tudo, e embora eu saiba bem as razões pelas quais o meu pai está preso, o que só me ajuda, tudo isso me pesa, entra nos meus sonhos, que são pesadelos.
Lembro-me que as visitas não eram amiudadas. Vivíamos no litoral do Alentejo, e as visitas não eram fáceis, por razões económicas. Quando vínhamos,trazíamos o possível e quase o impossível: uns mimos, guloseimas, os bolos de que ele mais gostava,ao mesmo tempo que roupas que era necesssário ir alternando. E nós, as mais miúdas, numa altura festiva, decidimos trazer à visita aquilo que, para nós, representava o que de mais carinhoso tínhamos: as nossas bonecas de celuloide, a quem arranjámos fatos novos, luxo a que nós próprias não nos podíamos dar.Vínhamos tão contentes! Entramos aqueles portões, casa de recepção em seguida, para deixar como de costume.as ditas encomendas, e...espanto! De mistura com o farnel, as mudas de roupa, os jornais, ficaram também as nossas "meninas", tudo para ser revistado. Acabada a visita fomos buscá-las. Voltaram ao nosso colo caminho do Alentejo, tão acabrunhadas, parecia-me, como nós próprias Foi-nos difícil entender tamanha minúcia... e ficou-me para o resto da vida um incidente de tão pouca importância. Recordo a saída das visitas do Aljube: os familiares em fila no passeio fronteiro, passeio muito  inclinado e escorregadio,  a tropeçarmos uns nos outros, porque todos queríamos andar e olhar para trás, a fazer ainda um adeus àqueles rostos que, serenamente, nos olhavam por detrás das gordas grades, acenando, tambem eles, conforme podiam (que as janelas eram poucas para tantos) até uma próxima visita.